domingo, 20 de dezembro de 2015

Nefertiti



Nefertiti (c. 1380-1345 a.C.) foi rainha da 18a dinastia do Antigo Egito, esposa principal do faraó Amenófis IV, mais conhecido como Akhenaton. O seu nome significa "a mais Bela chegou", o que levou muitos investigadores a considerarem que Nefertiti teria uma origem estrangeira, tendo sido identificada por alguns autores como Tadukhipa, uma princesa do Império Mitanni (império que existiu no que é hoje a região oriental da Turquia), filha do rei Tushratta. Sabe-se que durante o reinado de Amenófis III chegaram ao Egito cerca de trezentas mulheres de Mitanni para integrar o harém do rei, num gesto de amizade daquele império para com o Egito; Nefertiti pode ter sido uma dessas mulheres, que adotou um nome egípcio e os costumes do país.
Contudo, nos últimos tempos tem vingado a hipótese de Nefertiti ser egípcia, filha de Ay, alto funcionário egípcio responsável pelo corpo de carros de guerra que chegaria a ser faraó após a morte de Tutancâmon. Aye era irmão da rainha Tié, esposa principal do rei Amenófis III, o pai de Aquenáton; esta hipótese faria do marido de Nefertiti o seu primo. Sabe-se que a família de Aye era oriunda de Akhmin e que este tinha tido uma esposa que faleceu (provavelmente a mãe de Nefertiti durante o parto), tendo casado com a dama Tié.
De igual forma o nome Nefertiti, embora não fosse comum no Egito, tinha um alusão teológica relacionada com a deusa Hathor, sendo aplicado à esposa real durante a celebração da festa Sed do rei (uma festa celebrada quando este completava trinta anos de reinado).

domingo, 1 de novembro de 2015

domingo, 20 de setembro de 2015

Carta 1 - O Mago

"Sê em tuas obras como és em teus pensamentos". Sê para ti teu próprio pai, pois não haverá outro que possa te compreender melhor. Faze por ti o que ninguém faria, pois não há quem o veja como és. Sê uno contigo mesmo, pois tudo que dás é teu e o que recebes também é. Entre a palavra e o silêncio, silencia. Entre fazer e não fazer, espera. A pausa entre as ações te dará a dimensão dos teus atos. Toma o tempo como teu aliado, não teu inimigo. Um dia, ele desaparecerá e não te ocupará mais. Entre os homens, sê como eles. Entre os animais, também. A natureza quer apenas que compreendas o que é dito sem dizer. És a síntese de ti mesmo. Tudo que caminhaste até aqui. Essa energia não se perde. Teus atos permanecem contigo muito depois de partir. És princípio e o fim unificados. Assim como te foram dados os instrumentos para o teu trabalho, concede o fruto do teu labor. Sabes apenas o que precisas saber a cada momento. E, até que termines, terás recomeçado mil vezes. Decifrarás os mistérios, só para ocultá-los de novo, como uma flor que se abre e se fecha infinitamente.
1/11/2015 - 1h36

Carta 2 A Sacerdotisa

Vai à fonte dos desejos e colha tudo aos pares: a alegria e a tristeza, o prazer e a dor, o bem e o mal, e usa-os onde melhor se encaixem. De onde tiras um, tiras o outro, pois um não vive sem o seu oposto. Onde tiveres o poder, terás de perder, onde encontras a riqueza, vive a pobreza, de onde tiras a verdade, haverá a mentira, pois toda alegria tem a mesma raiz da tristeza e todo prazer dá início à dor. O bem e o mal se irmanam para lançar a luz e a noite sobre teus sonhos, tornando pesadelo o que não queres sonhar. Faze bem as tuas escolhas, pois não poderás desfazê-las, senão escolhe novamente para iniciar um novo ciclo e esquece o que passou. Tudo que sobe, tem que descer e o que desce, irá subir. O que perde, irá ganhar. E o que ganha, perderá, pois nascimento e morte estão unidos como dia e noite estão ligados. Mal um acaba e outro começa. O que é o fim de teu sofrimento, senão o princípio da alegria? O que é o fim de uma jornada, senão o início de outra? O infinito caminha em todas as direções. Vês agora o que não vias. E o que não podes ver ainda, um dia te será mostrado, pois nada fica no oculto eternamente.
1/11/2015 - 1h22



Carta 3 A Imperatriz


Teço tuas vestes, as que usas e as que jamais usarás. Tens o domínio sobre tua fala, embora não digas tudo que pensas. Predigo teu futuro para que escolhas teu destino. És senhor de tua vontade e das vontades dos outros sobre ti. Revelam-te o que está oculto e o manifesto se abre de par em par à tua frente. Passado e futuro convergem para o presente. Crias com as mãos o que a mente te diz. Aproveite as oportunidades antes que passem. Para tudo, há o momento da ação e da espera. O segredo está em saber quando agir e quando não agir, sem ser omisso. Reflete sobre tua alma e ouve o que ela te diz. O externo se parece com o interno. O que se mostra é a outra face do oculto. O que vês tem um rosto que não se vê. É o outro rosto que deves conhecer. Para toda verdade, há um segredo. Para todo segredo, uma verdade se manifesta. É esta que deves seguir, não a outra, que só está aqui para te enganar, para desviar-te do caminho. Antes de agir, pondere: é isto mesmo o que quero? O que quero para mim? Aceitarei todas as consequências? Uma vez lançado ao mar, o barco somente poderá regressar depois de dez luas. É o tempo que deverás usar para refletir sobre teus atos. Usa-o bem. 

20/09/2015 - 22h52





Carta 4 O Imperador

"Abençoa teu trabalho e, em teu pensamento, põe teu coração". Sê rei de ti próprio e conduze tua vida como um reinado. Traça teu destino enquanto caminhas, e escolhe bem as pedras onde pisas. O caminho se abre para os aventureiros. Ousa ir mais longe, pois não estás preso a nenhum lugar. Pensa como dar o primeiro passo e os outros se sucederão. Sê líder de tua família, para que te apoiem. Faze tuas escolhas com o coração. Não penses em ter antes de ser. O que tens jamais te será tirado se for teu. Mas se teus bens não te pertencerem, perderás tudo, não importa quanto lutaste para arrebanhá-los. Luta pela verdade, e somente te ampara nela. Ela te servirá de bússola sob o sol desértico. Guia-te pelas estrelas à noite. Viaja sob o manto noturno. O que fazes, não digas a teus aliados, somente quando já tiveres feito. Ninguém poderá fazer o que somente couber a ti. Rejubila-te com as alegrias alheias, assim, rejubilar-se-ão contigo. Sê rei de ti próprio e conduze tua vida como um reinado. Ampara os sofredores, ouve os que se lamentam e dá-lhes tua palavra de conforto. Assim também te darão bons conselhos. Segue a estrada que te leva ao lugar mais alto e, ao chegares lá, avalia os empecilhos. Tudo te foi dado para vencer. Usa bem os instrumentos para galgares tua vitória. 


20/09/2015 - 22h26


Carta 5 O Hierarca (O Sumo Sacerdote)


"Conhecia-te por meio de palavras, mas agora meus olhos te veem e meu coração te sente". És a luz divina, a luz que vivifica, que te dá nova vida e novo alento. Vives para ascender aos céus e dele retornar como ser divino. Assim os deuses se manifestam às suas criações, o cosmos se une à essência, e surge em nossa mente. A quintessência se expressa por meio dos pensamentos que afluem como as águas do Nilo, transbordando de suas margens. Moldamos nossa mente no fogo das paixões, no amor celestial, tudo que transcende a terra e seus elementos. O que vemos se desfaz e ressurge como amálgama de todas as vidas misturadas. Fogo, água, terra e ar nos conduzem à vivificação das espécies e busca o equilíbrio. O autoconhecimento aflora como a água das rochas, em meio às areias do deserto. Temos ânsia de saber o que não nos é dito. E esperamos atentos pelas palavras do divino. O Sumo Sacerdote detém as chaves do poder, regendo as forças do universo. E sob as estrelas construímos um caminho para subir de volta aos céus. 

20/09/2015 - 21h57 


Carta 6 Os Enamorados (A Indecisão)

Se me amas, como devo amar-te? Na frescura de tuas entranhas, de onde secretam tuas fontes, teus risos e martírios, teu doce alvorecer, porque tudo em ti é belo e faço-me bela para teus olhos. Na alegria do teu riso, busco onde estás. Se não me vês, faço-me presente, pois estás em toda parte. Em qualquer lugar, te vejo como se ali estivesses. Ouço-te dentro de minha cabeça. Não duvido de ti nem por um segundo. Escolho ver-te, porque aqui estás. Escolho amar-te, porque és. Se demoro a voltar, não é por não te querer, mas para ficar mais tempo à tua espera. Como os dias não se repetem, não te repetes para mim. E faço-me nova para que me descubras a cada vez que me encontras. Afastemo-nos das armadilhas, das intrigas, dos falsos amigos. Eles não sabem de nós. Ponhamos as tentações de lado e cuidemos apenas do amor. O amor nunca falha. A liberdade de amar está nas escolhas que fazemos para não faltar a esse amor. Amo-te por não precisar de ti. Me amas porque não tens necessidade de mim. Apenas o amor nos dá o que precisamos um do outro. O que te dou é apenas teu e ninguém mais bebe da mesma fonte. A indecisão reside na culpa de não amar. Se não amo, não sei quem sou. Somente amo quando sou.

20/09/2015 - 21h41 


sábado, 29 de agosto de 2015

Carta 7 A Carruagem (O Triunfo)


Sou a voz do mundo, a voz que fala por todas as bocas, todos os seres me ouvem, toda a terra se levanta e se deita ao som de minha voz. Sou o coração triunfante, aquele que chega à hora certa e, sob as estrelas, vê passar o tempo. A areia escorre pelo vidro da ampulheta e os homens marcam os dias com seus feitos. "Quando a ciência entra em teu coração e a sabedoria torna doce a tua alma, pede e te será dado". Pede o que quiseres ao dono do tempo. Os pássaros sobrevoam a manhã sem pouso. O sol torna igual todos os seres. E os que caminham escolhem uma direção. O que pedires te será dado em abundância, cuida para que peças bem. Não percas um momento do teu dia com lamúrias. Todo esforço é recompensado. Constrói para ti uma casa segura. O que vês passar são teus infortúnios. Esses lavram a terra para uma nova semeadura. A verdade elimina os erros, e não há dúvida diante da razão. Os homens pranteiam seu futuro. E ele os acolhe em demasia. Há mais tempo hoje para as novas palavras. Dize sempre a verdade e defende-a como à tua alma. 

29-08-2015 - 21h04



Carta 8 A Justiça


Queres a justiça dos homens, mas ela não te satisfaz. Queres a intervenção divina a teu favor, e ela não vem. Quanto mais pedes por justiça, mais ela te falha, porque os homens não veem com os olhos e não ouvem com os ouvidos, embora a pena de Maat se erga somente para teus feitos ao final da vida. Osíris é a divindade suprema, acima do bem e do mal, acima de todos os que labutam. E Ísis, a deusa-mãe, que ouve-nos prantear sozinhos. O que fazes colhes para ti mesmo. Nenhum mal se ergue sobre tua cabeça que não tenhas causado por medo. Por medo, teu destino se esvai, desce as corredeiras do rio, e submerge ante teus olhos. Sou refém de teu martírio. Teu vínculo com a terra, que te seduz. A vida brota de seus desígnios, e a espada corta ao meio por igual. Nada sobra, nem nada falta. O que pedes não é justiça, é perdão. 

29/08/2015 - 20h45


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Carta 9 O Eremita

O sábio conhece as palavras e o silêncio. Conhece a si mesmo e o outro. Conhece as crianças, as mulheres, os homens de todas as profissões, os velhos e os lugares. O sábio se cala quando não pode falar. Ouve mais do que fala. Esconde-se na caverna de seus pensamentos, Eremita de si mesmo, de onde sai para a luz do mundo. O sol paira sobre ele para guiar o caminho. O Eremita volta ao oásis. Caminha à beira do Nilo e planta as sementes de tâmara que comeu. Tudo que está vivo retorna. A permanência está no novo, não no antigo. O novo traz as folhas verdes dos seus antepassados. Revivemos nos netos. O Eremita faz uma pausa antes de continuar. Ele segue o passo dos deuses. Os deuses que caminharam na Terra antes de nós. Os que trouxeram as estrelas e traçaram suas rotas. O fogo e escrita que abriram as portas da mente. Na pedra, os hieróglifos, sabedoria ancestral e secular. O Eremita pousa seu cajado à beira do lago, à sombra da palmeira, onde pousa a íbis sagrada. Ouve-se uma prece ao infinito da noite estrelada.

27/08/2015 - 18h56


Carta 10 A Roda da Fortuna (A Retribuição)

O que te dou, tu me dás. O que tiro, tu repões. O que te digo, tu me dizes, com tua infinita bondade e candura. O que sou, és para mim. O que vejo é o que vês. Sou exatamente a brandura de tua felicidade. A roda da fortuna gira trazendo o futuro. Os fatos se sucedem como os dias. A noite se segue ao crepúsculo e a manhã apaga as estrelas. Tudo se move no universo, nada está parado, tudo é mutável e circundante. Os rios correm para o mar, o mar gira no planeta, os ventos erguem as ondas, que se atiram contra a praia. És o oblíquo e o agudo, o efêmero e o permanente, a voz e o silêncio, o que dás e o que retribuis. Sucedem-se os dias, meses e anos, e estaremos sempre à beira do porvir. A felicidade é uma nuvem, um raio de sol, uma sombra, um fruto maduro. Um instante. O presente. Aqui e agora. Somente quando o futuro é presente, a felicidade retorna, pousa sobre a árvore do pensamento e canta novamente o seu canto. 

27/08/2015 - 18h35



Carta 11 A Força (A Persuasão)

Eu me levanto, porque sou forte. Eu caminho, porque sou forte. Eu permaneço, porque sou forte. Por minha vontade, digo que sigo adiante, que tenho pressa de chegar. A força é minha fé e minha fé me dita o que fazer. A convicção de que sou uma num universo de sentidos, numa imanência de riscos, no trajeto de cometas que não param em nenhum lugar. Sou a que se ergue acima do horizonte e caminha na direção do sol. Sou a que acende o candeeiro à noite para que as estrelas possam me ver. Ilumino as estrelas com minha luz. Elas me pontuam o caminho. Eu me ergo do meu leito todos os dias e, todos os dias, dou boas-vindas aos elementos. A força de minha voz dita o destino. Sou minha própria força, minha vontade e minha fé.

27/08/2015 - 18h24


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Carta 12 O Pendurado (O Apostolado)

Renuncio à palavra e a tudo que ouvi. A natureza se funde à graça da existência e a beleza me contempla como seu espelho. Eis o meu desejo de servir, a minha devoção, o meu sacrifício. O que tenho não me pertence. O que virá será pleno de força. Sacrifica-se o maior pelo menor. O macrocosmo pelo microcosmo. O bem se perpetua em sua nascente. Abnegar-me para servir mais. Não dormir enquanto estiver de guarda. Vigiar o caminho. O que perderes te será devolvido. Antigas amarguras se dissipam. É o coração que fala. O belo aperfeiçoa a alma. Colho sorrisos. Encaro os fatos. Assim consuma-se a minha missão. 

13/08/2015 - 00h39


domingo, 8 de março de 2015

Carta 13 A Morte (A Imortalidade)

A morte nos acolhe como uma irmã que deixamos ao nascer. Voltamos ao lugar de onde viemos, trazendo a colheita nas mãos, e a depositamos sobre o prato da balança imóvel contra a pena de Maat. Osíris vê a medida de nosso discernimento, e calcula nossos atos pelo que fomos. A balança oscila e nos mostra o peso de nossa vida. Os olhos de Maat se fecham sem ver o que colocamos. A vida termina após um longo percurso de tentativas e erros, quando não erraremos mais. Entramos na órbita divina, onde não há divisão entre os dias, nem entre o céu e a terra. E as estrelas pontuam nosso caminho até o Sol que se põe em nossa existência. É a última jornada, o adeus sereno ao que fomos, para navegar as águas tranquilas do Nilo. Tantos destinos se cruzam e todos são um só no final. Voltamos à irmã abandonada, que nos abraça, pois nunca nos esqueceu. 

8/03/2015 - 22h04




Carta 14 A Temperança

Qual paisagem que emerge e deixa seus contornos, avisto a margem que brota de uma visão esmaecida, manhã que renasce de uma longa noite. Sem crepúsculo ou aurora, restam navios à deriva, naus imbricadas, ninfas em véus de água. Retorna o pássaro de uma longa distância, trazendo no bico um ramo de oliva. Caem as sementes no solo à beira da fonte e nascem flores mais belas que as de antes. São brotos de nova beleza, desenhados pela luz da lua que passeia livre por um céu sem nuvens.

2/03/2015 - 3h15


Carta 15 O Diabo (A Paixão)

Toma-me pelo sou. Não fui senão tua, como rainha, mulher e amante, a mais bela do reino. Vim juntar-me a ti e pedir que me ames. Eu não esperei, nem pedi nenhum homem senão a ti, príncipe amado, rei presumido, faraó do Alto e do Baixo Egito. Eu me vesti para receber-te. Ó Akhenaton, tuas mãos desfiam as horas em meu corpo e concebo para ti os teus filhos. Toma-me por quem sou. Tua amada, tua querida, tua adorada esposa e irmã. Não espero nada dos meus dias. Apenas que me ames por mim mesma, porque nada poderei te dar senão o que sinto, o que penso, o que vivi até aqui. Toma-me por minha vida, para dá-la a Aton. Teu deus é o meu deus, e tua vida é minha vida, a paixão me cega e ilumina. Vejo só quem és. E tu és o rei dos meus sentidos. Fui feita para amar-te e, por isso, aqui estou. 

8/03/2015 - 21h45 




sábado, 28 de fevereiro de 2015

Carta 16 A Torre ou Casa de Deus (A Fragilidade)

Liberto-me do meu passado e deixo para trás o que fui, tornando-me o que sou hoje. Reinicio para ser novamente eu mesma. Lavo os traços do rosto e recupero o olhar sobre as pequenas coisas. A distância afasta-me dos pensamentos obscuros, e subo à torre para olhar o horizonte. Vejo o contorno das árvores sobre os lagos, as flores que se dobram à brisa, as pedras alinhadas, os monumentos, o perfil dos faraós esculpidos, a suntuosidade de um tempo que não vivi. As mudanças ocorrem lentamente, mas a queda é repentina. A romã tomba quando está madura. As tâmaras são mais doces se colhidas no ponto. Redescubro minha face sobre as águas. A mulher que fui não é a mesma que está hoje à beira do Nilo. Movo as peças do tabuleiro de um jogo que não termino. Nunca seremos como somos agora. Esses mesmos seres que habitam as planícies e erguem pirâmides à sua memória. Sinais de nossa passagem. Longas dunas se movem silenciosamente ao sopro do vento.

1/03/2015 - 1h21


quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Carta 17 A Estrela (A Esperança)

Estrela da esperança, mãe do futuro, em tuas mãos coloco meu presente, o céu da alma vestido em meu corpo, pontilhado de caminhos e bifurcações. Abro o mapa celeste e lá encontro os mares que não vejo na terra. O céu imerso sobre nós, despejando suas estrelas à noite, invisíveis olhos a nos mirar durante o dia. Olho para tudo à minha volta e vejo os homens se movendo sobre a areia. Os barcos deslizando sobre as águas. Os pedregulhos arremetidos ao leito do rio. As fendas das tumbas que se fecham sobre nós. A luz do sol a brilhar, enquanto a lua se despede no horizonte. Tríades divinas sorriem ao fim do dia. O céu toma novamente a cor púrpura e acende as estrelas. Tilintam, ofuscadas por seu próprio brilho. O relógio de água move-se lentamente. O sol e a estrelas medem o nosso tempo. 

25/02/2015 - 22h05 


Carta 18 A Lua (O Crepúsculo)


Retorno à fonte das águas em que me banho. Sorvo a lua refletida nas águas. Corre o rio por minhas mãos e braços, a refrescar a pele. Sou tua serva e irmã, reflexo dos meus sentidos, colada à tua imagem como contorno do meu rosto. És a deusa refletida sobre o espelho d'água, teus lábios a dizer-me palavras para me consolar. Nasce a lua no horizonte, dourada e imensa, a derramar seus raios sobre a terra. Verte a miragem dos meus olhos, derrama tua luz em minhas entranhas, faz de mim receptáculo de tua origem, dando-me força e alento. Respiro o ar iluminado. As folhas oscilam na brisa que me envolve. Sombra e luz da lua. Nascimento de minhas raízes. Desenha a minha face na argila. Devolve-me os olhos com que vejo. Dá-me a língua e as palavras. Faz-me ouvir e silenciar.

25/02/2015 - 21h40





quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Carta 19 O Sol (A Inspiração)

Aton, deus Sol, de toda a força do mundo, traga sobre a terra sua energia e calor, provendo aos homens o nascimento da semente, a concepção dos peixes, as nuvens acima de nossas cabeças, e fartura por onde passamos. A chuva, a tempestade, a tormenta passam diante de seu furor. Aguardamos os raios da manhã para depositar nossas oferendas ao novo dia. Venha, Sol, tecer as cores da natureza diante de nossos olhos. O Sol que faz brilhar a fonte, que incha os frutos, e cria o ar que respiramos. Esse o Sol do meu rei, que reina sobre a planície e todos os charcos ao longo do Nilo, por onde navegamos. Eis a terra abençoada por seu furor, Aton, que sobe aos céus e desce no poente para nos lembrar que também temos um fim. Esse o deus único que pacifica nossas preces e nos liberta com sua luz.

20/02/2015 - 3h29


quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Carta 20 O Julgamento (A Ressurreição)

Julgaram-me pelo que fiz e pelo que não fiz. O que dei ao mundo, o mundo me tomou. O que fiz por mim, perdi ao longo do caminho. Nada levei para mim. Nada trago comigo. Deixei o que mais quis e o que quis não tomei. Nasci mil vezes as mil auroras a que assisti. Desci ao fundo do poço para erguer-me novamente, não a criança que fui, mas a mulher que nasci para ser. Sou única entre as rainhas do Egito. Ninguém me supera em beleza e pureza. Fui fiel ao meu rei até o fim dos seus dias. E os meus sepultei ao lado dele quando sua tumba se fechou. Nossos nomes foram apagados dos templos, nossas faces riscadas. Não viveremos mais o presente, somente o futuro. Minha cabeça ficará acima dos ombros, como sinal de nossa ventura. O olho esquerdo cego. O direito a ver eternamente. 

19/02/2015 - 1h23


Carta 21 O Mundo (A Transformação)

Desço ao mundo dos homens, o inferno que fiz para mim, minha terra esfacelada. Vivi à volta de todos, orei pelos filhos e marido, tudo que pude fazer por eles eu fiz. Agora não resta mais nada. Sou devolvida à terra que me criou. Sou filha de Aton e esposa de Akhenaton. A realização dos meus desejos não atendeu ao desejo de todos. Sucumbo à minha própria vida, que foi, ao lado do faraó, a única redenção que conheci. Esta a minha recompensa, o meu lugar no mundo. A vida é transitória. E como flor efêmera do Nilo, perco meus braços para nadar para longe. Toda a riqueza do mundo estava em mim. E nos braços enérgicos do rei, conheci a fortuna. O manancial de sua candura. A alegria. O ápice de minha existência só foi possível ao seu lado. E com ele soube ser quem eu era. A minha ventura nunca seria maior sem ele. E vencemos as intempéries, construindo um novo mundo. 

19/02/2015 - 1h13


domingo, 8 de fevereiro de 2015

Carta 22 O Bobo (O Regresso)

"Em teu segredo, não entre minha alma, nem em teu porto meu navio". Não te iludas com falsas promessas, nem com a língua viperina de teus inimigos. Aqueles que te querem bem muitas vezes só dizem em silêncio o que pensam. Pergunta a eles, se queres que te contem seus pensamentos. Os que te olham de perto, muitas vezes sentem inveja do que veem. Mostra-lhes um espelho: fala deles, ressalta suas qualidades (porque eles também as têm). Assim desviarão seus olhos sobre ti e verão apenas a si mesmos e dirão: "Como ele é bom! Como fala bem de mim!" E não mais irão ofender-te. Cuida de teus amigos e de teus inimigos ainda mais, pois estes só querem ser iguais a ti. Sê bom em todos os sentidos, mas guarda distância para que não te agridam. Não entres numa casa sem seres bem convidado. Nem convida para a tua quem queira te prejudicar. À tua porta, batem todos. Abre apenas para quem te queira bem. E àqueles que não te querem bem, mostra-lhes o espelho, para que vejam quem são.
1/11/2015 - 1h50