domingo, 8 de março de 2015

Carta 13 A Morte (A Imortalidade)

A morte nos acolhe como uma irmã que deixamos ao nascer. Voltamos ao lugar de onde viemos, trazendo a colheita nas mãos, e a depositamos sobre o prato da balança imóvel contra a pena de Maat. Osíris vê a medida de nosso discernimento, e calcula nossos atos pelo que fomos. A balança oscila e nos mostra o peso de nossa vida. Os olhos de Maat se fecham sem ver o que colocamos. A vida termina após um longo percurso de tentativas e erros, quando não erraremos mais. Entramos na órbita divina, onde não há divisão entre os dias, nem entre o céu e a terra. E as estrelas pontuam nosso caminho até o Sol que se põe em nossa existência. É a última jornada, o adeus sereno ao que fomos, para navegar as águas tranquilas do Nilo. Tantos destinos se cruzam e todos são um só no final. Voltamos à irmã abandonada, que nos abraça, pois nunca nos esqueceu. 

8/03/2015 - 22h04




Carta 14 A Temperança

Qual paisagem que emerge e deixa seus contornos, avisto a margem que brota de uma visão esmaecida, manhã que renasce de uma longa noite. Sem crepúsculo ou aurora, restam navios à deriva, naus imbricadas, ninfas em véus de água. Retorna o pássaro de uma longa distância, trazendo no bico um ramo de oliva. Caem as sementes no solo à beira da fonte e nascem flores mais belas que as de antes. São brotos de nova beleza, desenhados pela luz da lua que passeia livre por um céu sem nuvens.

2/03/2015 - 3h15


Carta 15 O Diabo (A Paixão)

Toma-me pelo sou. Não fui senão tua, como rainha, mulher e amante, a mais bela do reino. Vim juntar-me a ti e pedir que me ames. Eu não esperei, nem pedi nenhum homem senão a ti, príncipe amado, rei presumido, faraó do Alto e do Baixo Egito. Eu me vesti para receber-te. Ó Akhenaton, tuas mãos desfiam as horas em meu corpo e concebo para ti os teus filhos. Toma-me por quem sou. Tua amada, tua querida, tua adorada esposa e irmã. Não espero nada dos meus dias. Apenas que me ames por mim mesma, porque nada poderei te dar senão o que sinto, o que penso, o que vivi até aqui. Toma-me por minha vida, para dá-la a Aton. Teu deus é o meu deus, e tua vida é minha vida, a paixão me cega e ilumina. Vejo só quem és. E tu és o rei dos meus sentidos. Fui feita para amar-te e, por isso, aqui estou. 

8/03/2015 - 21h45