sábado, 29 de agosto de 2015

Carta 7 A Carruagem (O Triunfo)


Sou a voz do mundo, a voz que fala por todas as bocas, todos os seres me ouvem, toda a terra se levanta e se deita ao som de minha voz. Sou o coração triunfante, aquele que chega à hora certa e, sob as estrelas, vê passar o tempo. A areia escorre pelo vidro da ampulheta e os homens marcam os dias com seus feitos. "Quando a ciência entra em teu coração e a sabedoria torna doce a tua alma, pede e te será dado". Pede o que quiseres ao dono do tempo. Os pássaros sobrevoam a manhã sem pouso. O sol torna igual todos os seres. E os que caminham escolhem uma direção. O que pedires te será dado em abundância, cuida para que peças bem. Não percas um momento do teu dia com lamúrias. Todo esforço é recompensado. Constrói para ti uma casa segura. O que vês passar são teus infortúnios. Esses lavram a terra para uma nova semeadura. A verdade elimina os erros, e não há dúvida diante da razão. Os homens pranteiam seu futuro. E ele os acolhe em demasia. Há mais tempo hoje para as novas palavras. Dize sempre a verdade e defende-a como à tua alma. 

29-08-2015 - 21h04



Carta 8 A Justiça


Queres a justiça dos homens, mas ela não te satisfaz. Queres a intervenção divina a teu favor, e ela não vem. Quanto mais pedes por justiça, mais ela te falha, porque os homens não veem com os olhos e não ouvem com os ouvidos, embora a pena de Maat se erga somente para teus feitos ao final da vida. Osíris é a divindade suprema, acima do bem e do mal, acima de todos os que labutam. E Ísis, a deusa-mãe, que ouve-nos prantear sozinhos. O que fazes colhes para ti mesmo. Nenhum mal se ergue sobre tua cabeça que não tenhas causado por medo. Por medo, teu destino se esvai, desce as corredeiras do rio, e submerge ante teus olhos. Sou refém de teu martírio. Teu vínculo com a terra, que te seduz. A vida brota de seus desígnios, e a espada corta ao meio por igual. Nada sobra, nem nada falta. O que pedes não é justiça, é perdão. 

29/08/2015 - 20h45


quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Carta 9 O Eremita

O sábio conhece as palavras e o silêncio. Conhece a si mesmo e o outro. Conhece as crianças, as mulheres, os homens de todas as profissões, os velhos e os lugares. O sábio se cala quando não pode falar. Ouve mais do que fala. Esconde-se na caverna de seus pensamentos, Eremita de si mesmo, de onde sai para a luz do mundo. O sol paira sobre ele para guiar o caminho. O Eremita volta ao oásis. Caminha à beira do Nilo e planta as sementes de tâmara que comeu. Tudo que está vivo retorna. A permanência está no novo, não no antigo. O novo traz as folhas verdes dos seus antepassados. Revivemos nos netos. O Eremita faz uma pausa antes de continuar. Ele segue o passo dos deuses. Os deuses que caminharam na Terra antes de nós. Os que trouxeram as estrelas e traçaram suas rotas. O fogo e escrita que abriram as portas da mente. Na pedra, os hieróglifos, sabedoria ancestral e secular. O Eremita pousa seu cajado à beira do lago, à sombra da palmeira, onde pousa a íbis sagrada. Ouve-se uma prece ao infinito da noite estrelada.

27/08/2015 - 18h56


Carta 10 A Roda da Fortuna (A Retribuição)

O que te dou, tu me dás. O que tiro, tu repões. O que te digo, tu me dizes, com tua infinita bondade e candura. O que sou, és para mim. O que vejo é o que vês. Sou exatamente a brandura de tua felicidade. A roda da fortuna gira trazendo o futuro. Os fatos se sucedem como os dias. A noite se segue ao crepúsculo e a manhã apaga as estrelas. Tudo se move no universo, nada está parado, tudo é mutável e circundante. Os rios correm para o mar, o mar gira no planeta, os ventos erguem as ondas, que se atiram contra a praia. És o oblíquo e o agudo, o efêmero e o permanente, a voz e o silêncio, o que dás e o que retribuis. Sucedem-se os dias, meses e anos, e estaremos sempre à beira do porvir. A felicidade é uma nuvem, um raio de sol, uma sombra, um fruto maduro. Um instante. O presente. Aqui e agora. Somente quando o futuro é presente, a felicidade retorna, pousa sobre a árvore do pensamento e canta novamente o seu canto. 

27/08/2015 - 18h35



Carta 11 A Força (A Persuasão)

Eu me levanto, porque sou forte. Eu caminho, porque sou forte. Eu permaneço, porque sou forte. Por minha vontade, digo que sigo adiante, que tenho pressa de chegar. A força é minha fé e minha fé me dita o que fazer. A convicção de que sou uma num universo de sentidos, numa imanência de riscos, no trajeto de cometas que não param em nenhum lugar. Sou a que se ergue acima do horizonte e caminha na direção do sol. Sou a que acende o candeeiro à noite para que as estrelas possam me ver. Ilumino as estrelas com minha luz. Elas me pontuam o caminho. Eu me ergo do meu leito todos os dias e, todos os dias, dou boas-vindas aos elementos. A força de minha voz dita o destino. Sou minha própria força, minha vontade e minha fé.

27/08/2015 - 18h24


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Carta 12 O Pendurado (O Apostolado)

Renuncio à palavra e a tudo que ouvi. A natureza se funde à graça da existência e a beleza me contempla como seu espelho. Eis o meu desejo de servir, a minha devoção, o meu sacrifício. O que tenho não me pertence. O que virá será pleno de força. Sacrifica-se o maior pelo menor. O macrocosmo pelo microcosmo. O bem se perpetua em sua nascente. Abnegar-me para servir mais. Não dormir enquanto estiver de guarda. Vigiar o caminho. O que perderes te será devolvido. Antigas amarguras se dissipam. É o coração que fala. O belo aperfeiçoa a alma. Colho sorrisos. Encaro os fatos. Assim consuma-se a minha missão. 

13/08/2015 - 00h39