sábado, 28 de fevereiro de 2015

Carta 16 A Torre ou Casa de Deus (A Fragilidade)

Liberto-me do meu passado e deixo para trás o que fui, tornando-me o que sou hoje. Reinicio para ser novamente eu mesma. Lavo os traços do rosto e recupero o olhar sobre as pequenas coisas. A distância afasta-me dos pensamentos obscuros, e subo à torre para olhar o horizonte. Vejo o contorno das árvores sobre os lagos, as flores que se dobram à brisa, as pedras alinhadas, os monumentos, o perfil dos faraós esculpidos, a suntuosidade de um tempo que não vivi. As mudanças ocorrem lentamente, mas a queda é repentina. A romã tomba quando está madura. As tâmaras são mais doces se colhidas no ponto. Redescubro minha face sobre as águas. A mulher que fui não é a mesma que está hoje à beira do Nilo. Movo as peças do tabuleiro de um jogo que não termino. Nunca seremos como somos agora. Esses mesmos seres que habitam as planícies e erguem pirâmides à sua memória. Sinais de nossa passagem. Longas dunas se movem silenciosamente ao sopro do vento.

1/03/2015 - 1h21


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